Eu não sei mais como amar você

The_Story_of_Us_288

Lembro daquela noite anterior ao dia em que peguei aquele avião para bem longe daqui, estávamos sentados perto da piscina, e todos os nossos amigos me fizeram discursos de despedida, mas lembro que nada se comparava ao seu. Você foi aquele que realmente me fez chorar, e já fazia um certo tempo que éramos amigos, mas acho que naquela época, eu ainda era novidade. Você disse que eu era seu melhor amigo, a pessoa que mais te entendia, mas isso foi só um trecho em meio à muitas palavras bonitas, e tudo foi tão sincero. Tudo parecia tão certo.

Foi tudo tão intenso que eu pensei “meu Deus, eu vou beijar esse garoto”, mas claro que eu não beijaria, pois conheço suas crises de ansiedade e até imagino como isso te deixaria nervoso; e além do mais, é melhor beijarmos alguém que queira nos beijar. Meses depois, eu tive que pegar um avião de volta, nada tinha dado certo (mais uma vez). E foi nessa volta que eu comecei a sentir as coisas mudarem, você não era mais o garoto da noite do discurso, e nem eu. Mas eu sempre fui muito insistente, e amizades sempre estarão em primeiro lugar para mim.

E foi aí que nós começamos a encontrar nossos defeitos, coisas que não gostávamos um no outro, e fomos aprendendo a viver com isso. Nós trocávamos experiências. Conversávamos e aprendíamos tudo um com o outro. Até que um dia eu não sabia mais de nada. Eu meio que me perdi no mundo de um garoto que quase me arruinou, e de sobra, quase me perdi no de outro, foi um momento da minha vida em que eu estava tendo que superar duas pessoas ao mesmo tempo, foi o momento em que me perguntei onde você estava quando tudo acabou. Senti aquela distância crescendo e crescendo, então fui atrás de você, e em troca ouvi varias coisas bem ruins, o tipo de coisa que só te deixa pior do que você estava.

O discurso havia mudado, agora você já estava cansado, você não me aguentava mais, nem meus textos, nem meu modo de levar a vida, você não suportou me ver passar por aquele problema. Você me virou as costas no momento em que mais precisei, e eu ignorei isso, ignorei tudo, pois seu aniversário estava se aproximando. Olha que ridículo, no momento em que deveria pensar em mim, eu ainda pensei em você, e eu vi todo mundo me chamar de idiota mais uma vez, por sempre perdoar todo mundo tão facilmente. Ainda mais por perdoar alguém que nem se quer notou que errou, alguém que não pede desculpas, que nunca pede desculpas, pois você nunca está errado.

Parece que eu sempre te perdoei mentalmente, ou sempre tentava entender seus sinais, e eu achava isso legal, eu pensava “isso é ele tentando”, mas será que era mesmo? Ou era só o que eu queria ver? A verdade é que eu sentia como se você sempre quisesse agir como se nada tivesse acontecido, sorrir e acenar como se estivesse tudo bem, e eu entrava na onda, afinal, eu queria que tudo ficasse bem mesmo. Mas no fundo, eu nunca esqueci de nada, está tudo aqui, está tudo ido embora, aliás. Depois daquele seu áudio de oito minutos, eu me tornei uma pessoa um pouco mais insegura, e agora eu andava vigiando meus passos.

Antes, eu fazia coisas e pensava “ele sabe exatamente o que estou sentindo”, agora, eu sinto um medo terrível de imaginar o que você pensa, aliás, eu até sei, você não acha que eu encaro as coisas de forma saudável, e eu tive que me sentir mais um pouco perturbado ao ouvir isso. Mas a verdade é que não estou doente, eu só não sou como você, não penso como você, e talvez nunca vá pensar, e acho que é isso que você não entende, o fato de que você nunca se sentiu como eu, que existem coisas que você tem que passar pra saber como é. Você sempre veio com a solução simples, como se fosse uma pilha para encaixar em mim para que eu funcionasse de novo, ignorando tudo o que estava quebrado por dentro.

Eu me vi muito preocupado com a ideia de não estar funcionando como você quer, foi quando eu vi que perdi minha liberdade, porque eu dava tanta importância ao que você pensava, pois queria estar perto de você, queria sua companhia, nós éramos melhores amigos, afinal. Mas a vida não deveria ser assim, pelo menos não pra mim, pois eu amo minha liberdade, e quando eu me dei conta do que estava perdendo, que estava me perdendo ao mesmo tempo que perdia você, eu vi que muita coisa foi em vão. Foi quando eu percebi que houve um tempo em que éramos dois em um, mas que agora nós somos pessoas completamente diferentes.

Acho que chegar à essa conclusão, me trouxe minha liberdade de volta. Foi o dia em que eu sentei pra pensar na gratidão, todo fim para mim tem que ter isso. Mas não digo que nossa história tenha acabado, eu só não sei nem em que página estamos, porém, eu estou meio sem paciência de continuar nesse mesmo velho livro. Acho que nós dois estamos bem desgastados, e eu entendo suas razões, sei que há pessoas próximas de você que sempre acharam essa amizade muito arriscada ou até mesmo bem perigosa, sempre teve gente para tentar nos separar.

E você me disse que não existia influência de ninguém na sua distância, mas você vivia dizendo que não estava falando comigo direito por causa deles, e isso me deixava confuso. Pois se não havia ninguém interferindo, por que você sempre tinha que me esconder? Você disse que nós tínhamos necessidades diferentes, que eu queria sair e registrar os momentos, enquanto você só precisava saber que a pessoa estava ali, e eu percebi que você estava morrendo de medo de ser visto comigo. Mas quem pode te culpar com a família que você tem? Eu vi que eu tinha que parar de insistir, como você mesmo disse “estamos em vibes diferentes”.

Somos duas pessoas em momentos diferentes agora, mas acredito que tudo vai melhorar, até meu medo de escrever essas coisas se foi, pois me assombrava a ideia de você criticando isso. Aliás, eu passei um bom tempo na dúvida se você estava me dando dicas ou simplesmente incomodado com meu modo de viver, mas de qualquer forma, isso não importa mais. Tudo o que eu sei é que eu mudei, e você não gosta da pessoa que eu me tornei; você mudou, e eu não gosto da pessoa que você se tornou, será que podemos seguir em frente com isso? Sou grato por tudo o que tivemos, e te amo por tudo aquilo, mas acredito que chegamos ao ponto onde não estamos fazendo tanta questão um do outro.

Acho que é aquela história de “nos amamos ou nos acostumamos um com o outro?”, fica aquela dúvida, mas não preciso de uma resposta, aliás, não preciso de mais nada. Você mesmo me disse que eu gasto muito energia com determinadas pessoas, e que eu deveria parar com isso, e nisso você tem razão, pelo menos parcialmente. Acho que eu só não encontrei quem mereça tudo isso, tanto esforço, sabe? Mas tal dia eu ainda me esbarro com alguém que faça valer a pena.

Espero que você também encontre tudo aquilo que sonha. E não encare isso como se eu estivesse indo embora, mas é estranho pensar que nós éramos Demi e Selena em Programa de Proteção para Princesas, e agora eu só consigo imaginar o final de Meninas Malvadas para isso. Mas não é tão ruim assim, é? Nós ainda seremos capazes de ter respeito um pelo outro, pois esse texto, acima de tudo, é uma bandeirinha branca. Um discurso de paz de alguém que cansou de brigar.

“Eu costumava achar que o meu lugar era um local próximo a você
Agora eu estou procurando por uma cadeira vazia
Porque ultimamente eu não sei em que página você está
Oh, uma simples complicação, falhas de comunicação destruiram tudo
Tantas coisas que eu queria que você soubesse
Tantos muros que eu não pude quebrar.”

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